segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Recife que não tenho 2


“... nesta terra, em se plantando tudo dá...
Continuo pensando nas palmeiras, não só do Recife, mas de todo este Brasil. Bem, é inevitável a sua beleza, este ar de trópicos que estas plantas provocam e tão espalhadas pelo nosso litoral, confundida com a natureza nativa apesar de ser tão migrante quanto o português ou qualquer outro de além-mar. As palmeiras tendem a permanecer, mas descobri que é mais fácil preservá-las por seu fruto e água terem virado produtos industrializáveis que por qualquer consciência ecológica. O nosso mangue tem outra história, nunca serviu para nada. Eu me lembro garoto atravessando a ponte do Pina a pé ou andando de lancha saída de porto improvisado de Brasília Teimosa até o Cais de Santa Rita quando destruíam o matagal para levantar o Cabangá Iate Clube e achávamos tudo muito bonito. Afinal, teríamos um iate clube de vizinho, que além de parecer muito bonito valoriza o preço de nossas casinhas. Com o tempo, porém, as pessoas mais simples de nossa comunidade perceberam o óbvio, que para nós não existia. Alguma coisa errada acontecia com nossa maré, que estava mais suja e com menos peixes. Alguém de uma universidade qualquer que não lembro, foi para a televisão dizer que o mangue protegia nossa maré, que absorvia o lixo que teimosamente jogávamos ao mar, que absorvia as impurezas além de ser viveiro dos preciosos seres do mar que alimentavam as populações ribeirinhas da área. Lembro que passar a ter que valorizar o mangue virou assunto de escola, de professor de biologia que não punha o pé na maré e que agora teimava em nós dar consciência ecológica. Descobrimos coisas sérias. Que as palmeiras não eram nossas e que o mangue sim, esse era tupiniquim, brasileiro, verde e amarelo. Desde então o mangue passou a ser mais bonito para mim. Não parecia ser mais mato na maré, mato que parecia atrair a lama e atrapalhar o mergulho. Mato que teimosamente se espalhava pelos caminhos de espuma das lanchas.

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