segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Recife que não tenho


“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”
A cada dia fica mais difícil encontrar palmeiras nas grandes cidades, e quanto ao canto do sabiá ou de qualquer ave canora, substituídas que estão sendo em seus acordes pelos digitalizados. Mas, ainda é um poema que pode ser cantado por qualquer cidadão saudoso de sua casa. De qualquer modo, em minha urbana cidade ainda é possível encontrar algumas palmeiras e coqueiros nas nossas belas praias, que para continuarem belas precisam de um pouco mais de amor de seus banhistas. Também é possível apreciar o som dos pássaros, não o lamento triste do engaiolado, mas, aqui e ali, um gorjeio florido de quem ainda têm liberdade, mesmo que seja em algumas reservas do Horto, tão bonito quanto o que tenho em minha cidade, mas, tão maltratado por quem dele se utiliza. Em uma cidade já tão urbanizada, maltratada pela beleza selvagem do desenvolvimento, sempre é possível, fora do horário corrido, e do leva e trás dos ônibus lotados de trabalhadores que a constroem, mas não tem tempo para apreciá-la, encontrar a beleza da mão humana. Percorro as ruas estreitas de construções seculares que se assemelham a arquitetura moderna, apenas pela necessidade de quem as fez, e da época que as sugeriu. O cheiro do tempo me faz procurar os passos dos antigos, suas roupas, enfeites e manias. E posso imaginar, e imaginar acima de tudo que eram pessoas como eu, que tinham que viver, trabalhar e sonhar, como todos os outros de todos os tempos, de todas as cidades por este país afora. O tempo mostra a época e a cabeça de cada um, prédios com cara de obra de arte, a imensidão de Igrejas de todas as cores, as suas festas mais comportadas, ou menos, depende também da época. As pontes, os trilhos dos bondes - hoje sem utilidade, mas ainda presentes. Todo um conjunto, dentro de um conjunto, montado pelo tempo e pela necessidade das pessoas, que se for separado do hoje, ganhará a beleza dos tempos passados ou o charme discreto de cidadezinha do interior. É tudo uma questão de saber andar e o que olhar. É inevitável tentar pensar a cabeça dos que vieram antes, e por um breve momento se transportar magicamente para tempos idos. Mas não fujamos demais do mundo moderno, afinal, nascemos aqui, neste agora. Meu primeiro encontro com a cidade foi àquela maternidade, que continua servindo como porta de entrada para outros tantos novos cidadãos. Depois a minha casa, que pode não ter uma arquitetura de valor histórico e tudo mais, mais é a minha casa. A célula base de toda esta metrópole, que se orgulha da imponência de seus prédios, de suas auto-estradas, de sua iluminação e de ser um pedaço do Brasil. Posso achar meu mundo em outras partes, na escola, por exemplo, na Igreja do bairro, no trabalho, no clube. Lugares do coletivo, da construção da consciência de que não estamos sozinhos, de que há algo maior. É no coletivo que percebemos, ou ao menos esperamos, buscar a harmonia para construir uma época. É até interessante, e também necessário, pensar o que no futuro será está minha terra. Que para mudar, não depende só dela, pois está ligada aos acontecimentos de um grande país. Mas é uma preocupação que deve estar presente, sempre, na cabeça de todos os que respiram o mesmo ar. É possível até acreditar em uma cidade futurista, desta de filmes, mas eu sempre reservarei um espaço para minhas palmeiras a beira do mar e para o canto do sabiá.

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