segunda-feira, 2 de julho de 2012

Passeio ao Domingo


              Nossa cidade é muito feia! Não parece - pensando em todas as que conheço - mas a nossa é particularmente feia!
              De segunda a sábado não consigo ver outra coisa além de feiúra, muito calor e gente correndo de um lado para outro um tanto quanto sem rumo em seu caminhar firme para algum lugar que só para ele, caminhante, é importante.
              Caminhar esse se deve registrar, atrapalhado pelo excesso de barracas atravessando as calçadas, ruas, becos, vielas. Autorizados ou não lá estão eles, os ambulantes, garantindo em sua faina diária o seu ganha pão, e atrapalhando o caminho dos andantes, também em busca de pão.
              Além das barracas, claro, e já quase uma paisagem tão natural a esta terra quanto as importadas palmeiras, as motos. De todos os tipos e cores, nacionais e importadas, novas e velhas, grande e pequenas, mas todas inexoravelmente estacionadas no lugar errado. Em cima das calçadas, na passagem dos ônibus, ocupando um lugar que não lhes pertence à não ser para seus proprietários, também avexados que não tiveram tempo de estacionar em lugar correto.
              Assim vamos todos nós, desta cidade, jovem de séculos, apressados, enfeando o ambiente e participando com nossa fealdade para aprimorar o que parece catastrófico.
              Mas, busquemos a beleza!
              Não existe dia melhor para se conhecer o Recife – estou me referindo ao Centro da cidade – do que aos domingos. Primeiro, a passagem ultimamente é mais barata, metade do preço.  Depois parece que a maioria não gosta muito de ir ao centro da cidade, principalmente em busca de lazer.
              Se formos procurar a maioria das pessoas nos domingos nós as encontraremos, em grande parte lotando o nosso litoral; a praia de Boa Viagem precisará logo de sinal de trânsito. Ou nos shoppings. Temos vários agora.
              Desta forma o centro fica vazio.
              Pegamos o metrô ou um ônibus também vazios. Sem empurra-empurra, música alta, invariavelmente de gosto duvidoso, pregadores, xingamentos ao motorista, ou a sua pobre mãe, etc.
              O passeio de metrô é mais bonito e agradável. Lembra, de alguma forma os passeios de trem para o interior. Pode-se apreciar a periferia que parece mais calma e bonita também aos domingos. Vemos pelas janelas crianças batendo bola, mulheres conversando, velhos senhores jogando dominó. A estação central é um misto do moderno e do passado. Museu do trem, fachada ornamentada com o que havia de melhor no século XIX, ladeado por moderna estação de metrô de superfície.
              Saímos da estação e tropeçamos na história. Estamos de frente a atual Casa da Cultura, centro de artesanato regional e de artistas dos mais diversos matizes. Antigo presídio que ainda parece carregar as dores de seus antigos moradores nas paredes, mas atual fonte carregada de pernambucanidade, muito procurada por turistas.
              A partir daí começamos a vaguear pela cidade; as ruelas estão mais limpas aos domingos do que em qualquer dia. Limpa de pessoas e da sujeira cotidiana.  E possível distinguir os prédios. Sem ser especialista podemos tentar adivinhar-lhes a idade. Ao menos dizer que este ou aquele é da metade do século XX, do início do século XX, aquele outro do século XIX.
              Paredes, portas, portais, cores, jarretas, gárgulas, santos, títulos, estatuas que ganham vida. Heróis, alguns que aprendemos os nomes na escola outros que nunca ouvimos falar. Os nomes das ruas aparecem, estranhamente em algumas diferentes do que acostumávamos a chamar.
              Simplesmente surge ante nós uma cidade nova. Quase diferente da nossa cidade, mas a nossa cidade de sempre que o dia-a-dia nos impede de enxergar.

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