Nossa cidade é muito feia! Não
parece - pensando em todas as que conheço - mas a nossa é particularmente feia!
De segunda a sábado não consigo
ver outra coisa além de feiúra, muito calor e gente correndo de um lado para
outro um tanto quanto sem rumo em seu caminhar firme para algum lugar que só
para ele, caminhante, é importante.
Caminhar esse se deve registrar, atrapalhado pelo excesso de barracas
atravessando as calçadas, ruas, becos, vielas. Autorizados ou não lá estão
eles, os ambulantes, garantindo em sua faina diária o seu ganha pão, e
atrapalhando o caminho dos andantes, também em busca de pão.
Além das barracas, claro, e já
quase uma paisagem tão natural a esta terra quanto as importadas palmeiras, as
motos. De todos os tipos e cores, nacionais e importadas, novas e velhas,
grande e pequenas, mas todas inexoravelmente estacionadas no lugar errado. Em
cima das calçadas, na passagem dos ônibus, ocupando um lugar que não lhes
pertence à não ser para seus proprietários, também avexados que não tiveram
tempo de estacionar em lugar correto.
Assim vamos todos nós, desta
cidade, jovem de séculos, apressados, enfeando o ambiente e participando com
nossa fealdade para aprimorar o que parece catastrófico.
Mas, busquemos a beleza!
Não existe dia melhor para se conhecer o Recife – estou me referindo ao
Centro da cidade – do que aos domingos. Primeiro, a passagem ultimamente é mais
barata, metade do preço. Depois parece
que a maioria não gosta muito de ir ao centro da cidade, principalmente em
busca de lazer.
Se formos procurar a maioria das pessoas nos domingos nós as
encontraremos, em grande parte lotando o nosso litoral; a praia de Boa Viagem
precisará logo de sinal de trânsito. Ou nos shoppings. Temos vários agora.
Desta forma o centro fica vazio.
Pegamos o metrô ou um ônibus também vazios. Sem empurra-empurra, música alta,
invariavelmente de gosto duvidoso, pregadores, xingamentos ao motorista, ou a sua
pobre mãe, etc.
O passeio de metrô é mais bonito e agradável. Lembra, de alguma forma os
passeios de trem para o interior. Pode-se apreciar a periferia que parece mais
calma e bonita também aos domingos. Vemos pelas janelas crianças batendo bola,
mulheres conversando, velhos senhores jogando dominó. A estação central é um
misto do moderno e do passado. Museu do trem, fachada ornamentada com o que
havia de melhor no século XIX, ladeado por moderna estação de metrô de
superfície.
Saímos da estação e tropeçamos na história. Estamos de frente a atual
Casa da Cultura, centro de artesanato regional e de artistas dos mais diversos
matizes. Antigo presídio que ainda parece carregar as dores de seus antigos
moradores nas paredes, mas atual fonte carregada de pernambucanidade, muito
procurada por turistas.
A partir daí começamos a vaguear pela cidade; as ruelas estão mais
limpas aos domingos do que em qualquer dia. Limpa de pessoas e da sujeira
cotidiana. E possível distinguir os
prédios. Sem ser especialista podemos tentar adivinhar-lhes a idade. Ao menos
dizer que este ou aquele é da metade do século XX, do início do século XX,
aquele outro do século XIX.
Paredes, portas, portais, cores, jarretas, gárgulas, santos, títulos,
estatuas que ganham vida. Heróis, alguns que aprendemos os nomes na escola
outros que nunca ouvimos falar. Os nomes das ruas aparecem, estranhamente em
algumas diferentes do que acostumávamos a chamar.
Simplesmente surge ante nós uma cidade nova. Quase diferente da nossa
cidade, mas a nossa cidade de sempre que o dia-a-dia nos impede de enxergar.
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