quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pragas urbanas: Celular






              Quem passou dos trinta anos deve lembrar de uma época romântica sem celulares, e-mails, sms e redes sociais, que dizem - aproxima as pessoas. Nem tão longe assim, dia desses. Nós nos preocupávamos em enviar uma carta que para além de seu conteúdo, deveria estar em papel adequado, escrito com boa letra, sem erros de português e envelope bonito. Havia os que extrapolavam e arrumavam desenhos, cores e cheiros para suas cartas. Quando se queria conversar um telefonema rápido para se marcar uma praça, praia, cinema, shopping, pelada ou que fosse. Se muito jovem ou compromissado, para dar satisfação do seu paradeiro os orelhões e suas fichas, trocadas posteriormente por uma invenção maravilhosa que já caiu em desuso: os cartões telefônicos, que além de seu devido valor utilitário ainda era – e ainda o são hoje em dia – fonte para colecionadores. Eu mesmo guardo os meus com motivos de prédios de várias cidades. O computador em parte substituiu tudo isso. Afinal, podemos levá-los para qualquer lugar e nos comunicar com o mundo inteiro. Para complementar os pc’s vieram os celulares. Esse é útil, mas é a doença infantil do capitalismo do século XXI. O símbolo máximo da modernidade, da comunicação, do contato fast food hiper-adolescente. Mesmo dos que já passaram de muito da adolescência como eu. E também o símbolo máximo da falta de educação, desrespeito pelo ouvido e sensibilidade alheios. Atire o primeiro celular no Rio Capibaribe – coisa mais politicamente incorreta – quem nunca se sentiu incomodado com este aparelhinho onipresente em nosso cotidiano? No cinema, a garotada já faz piada ligando uns para outros só para incomodar o ouvido alheio pelo simples prazer da gaiofa. No teatro incomoda assistência e atores. Já vi atores incorporarem a sua performance o ato de parar a apresentação para reclamar do público. Nas casas de show o indefectível isqueiro que alimentava e iluminava as baladas foi substituído por eles, mas ai é até bonitinho. Bom mesmo é no metro e no ônibus. Você quer saber quem esta brigando com quem? A mentira do empregado explicando o porque de estar atrasado para o trabalho? Saber a que horas nem sei quem vai encontrar-se com sei lá quem, em tal local? Ouvir mulher gritando com marido, marido com mulher, filho mentido para os pais, quem esta pegando quem, a última da novela ou qualquer outro assunto que não lhe interessa, além claro de ter que suportar – se você não gosta – de sertanejos e forros universitários de qualidade mais que duvidosa, bregas, swingueiras, pagodes e até aquela música que você gosta, mas que naquele momento esta lhe enchendo a paciência. Tudo isso a pleno volume, não de um único celular, mas, na maioria das vezes de vários no mesmo espaço exíguo. Se você acha tudo isso normal, ou faz parte desse grupo mais que “moderno” Então esta de boa! Como se fala hoje em dia. Mas para quem não se interessa por nada disso e apenas deseja chegar sossegado em seu compromisso. Esta é uma enorme praga urbana.

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